Metamorfoses da cidade medieval. A coexistência entre a comunidade judaica e a catedral de Viseu

Autores

  • Anísio Miguel de Sousa Saraiva Centro de História da Sociedade e da Cultura - UC; Centro de Estudos de História Religiosa – UCP anisio@sapo.pt

DOI:

https://doi.org/10.4000/medievalista.793

Palavras-chave:

História Urbana, Viseu, Judeus, Catedral, Idade Média.

Resumo

O estatuto de Viseu como centro político, eclesiástico e comercial, actuou como factor de desenvolvimento e fixação de mercadores e judeus. Datam dos finais de Duzentos os primeiros testemunhos da presença hebraica nesta cidade, cuja comuna prosperou sobretudo a partir dos inícios de Quatrocentos, no momento em que Viseu deu início a um intenso processo de reconstrução, após três décadas de conflito e destruição que marcaram todo o reinado fernandino e os primeiros anos da governação de D. João I. Neste artigo abordamos o perfil multi-confessional de Viseu medieval e o contributo judaico na construção do espaço urbano e social da cidade, no período anterior à expulsão dos hebreus, em 1496. Analisamos os contornos deste processo de coexistência e de colaboração, por vezes pouco pacífica, entre os judeus e a catedral. Esta, como detentora de grande parte da propriedade urbana da cidade, funcionou como importante interlocutor no relacionamento dos cristãos com a minoria judia e exerceu uma forte influência nos seus mecanismos de organização espacial. Entre algumas questões analisadas neste âmbito, destacamos a deslocalização do bairro judaico, em grande medida como consequência das relações de poder e da defesa dos interesses de judeus e cristãos no contexto da reorganização da malha urbana quatrocentista de Viseu.


Fontes manuscritas:

Arquivo Distrital de Viseu (ADVIS)

Pergaminhos, m. 00 (n. 4, 44, 58, 161, 185, 328, 337); m. 09 (n. 12, 14); m. 15 (n. 15, 46); m. 16 (n. 39); m. 18 (n. 09, 72, 76, 109); m. 19 (n. 19 verso, 79); m. 20 (n. 91); m. 21 (n. 74); m. 22 (n. 04, 20); m. 23 (n. 49, 67); m. 25 (n. 18b); m. 26 (n. 16); m. 28 (n. 55); m. 30 (n. 10); m. 32 (n. 22, 37); m. 33 (n. 07, 08, 26, 44); m. 34 (n. 06, 44); m. 35 (n. 17, 26, 27, 45b); m. 36 (n. 50); m. 37 (n. 04); m. 38 (n. 36a, 50); m. 39 (n. 06, 12, 15); m. 40 (n. 31); m. 41 (n. 11, 32); m. 42 (n. 03); m. 43 (n. 06, 24, 32, 33, 35, 46); m. 44 (n. 14, 18, 24, 31); m. 46 (n. 14, 35); m. 47 (n. 18, 19, 29, 35); m. 48 (n. 07, 36, 47, 48, 50); m. 49 (n. 11, 12, 15, 17, 63); m. 50 (n. 31, 81).

Arquivo Nacional da Torre do Tombo (ANTT)

Leitura Nova, Beira, Liv. 2.

Sé de Viseu, Documentos Régios, m. 1 (n. 23).

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Publicado

2012-01-01

Como Citar

de Sousa Saraiva, A. M. (2012). Metamorfoses da cidade medieval. A coexistência entre a comunidade judaica e a catedral de Viseu. Medievalista, 1(11). https://doi.org/10.4000/medievalista.793

Edição

Secção

Artigos