Babuinare: o macaco nos marginalia do século XIV em Portugal
DOI:
https://doi.org/10.4000/medievalista.7741Palavras-chave:
iconografia, marginalia, Portugal, macaco, século XIVResumo
Conhecidas pela sua prolixidade e heterodoxia, as margens da arte medieval oferecem-nos, também em Portugal, um vastíssimo elenco de figuras, temas e estratégias de representação que importa interrogar e conhecer. Criadas para preencher vazios, para dinamizar superfícies e relações espaciais, para comentar e ampliar os efeitos previstos para o centro, foram também investidas de funções lúdicas, profiláticas e apotropaicas, tão importantes na cultura medieval mas ainda tão pouco estudadas (e tão difíceis de estudar) entre nós.
Entre os diversos protagonistas destas margens da arte medieval, destaca-se, sobretudo a partir do final do século XIII, a figura do macaco, símile e extensão satírica e moralizadora do comportamento humano e, portanto, actor principal de um mundo às avessas que encontra nas margens o seu lugar natural. Atestando a naturalidade desta mesma relação, a primeira designação medieval para uma boa parte da figuração que hoje designamos por marginalia provém do termo babuíno, convocando a generalidade das espécies e comportamentos símios então conhecidos. Partindo desta afinidade, procuraremos identificar e, sempre que possível, interpretar algumas das mais significativas representações de macacos nos marginalia medievais em Portugal ao longo do século XIV, das quais se destacam dois estudos de caso inéditos.
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